terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

MOMENTO MUSICAL

MOMENTO POÉTICO

Entrelaçados



Quem viu?
Quem provou?
Quem ouviu?
Quem sentiu?
Sem saber quem é você
Mergulhei dentro
Quebrando as correntes
Desatando nós.
No doce sufocar do teu beijo
Atordoado pelo teu toque.
Quando foi que me perdi em você?
Agora vago pelas ruas do teu coração
Ruas sem nomes
Cidades desgovernadas
Países sem mapas
Nações sedutoras.
Me tentaram
E tentei.
Por um instante, tentei povoá-las
Gritando pela pele
Aflorando sentidos.
Te desejo.
Desejo que sutilmente machuca
E aos poucos vai me tomando
Me fazendo te tomar em meus braços
Nos envolvendo nesse espaço
Sem limites
Sem verdades.
Onde a dor, é o lamento da distância.





-Andreas Lux-

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

MOMENTO REFLEXIVO

Da ambivalência que se revela



Consta no Aurélio: Curtir - Verbo transitivo direto. 3. Tornar rijo, são, saudável (uma pessoa), expondo-a ao sol, ao ar livre. 5. Padecer, sofrer, suportar. 7. Bras. Gír. Gozar, desfrutar, deleitar-se.
Nossa língua, neste caso nos revela uma ambivalência que não se encontra a nível semântico e sim a nível existencial. O Ser Humano é lançado no mundo imerso em uma grande falta. Cada um de nós, desde pequenos, aprendemos a nomear aquilo que nos falta com palavras, sons, gestos. Desejo. Mas nossa condição não se resume a isso, acredito, já que há momentos em que não queremos nada, e, não se iludam, não é quando temos aquilo desejado. Não somos apenas um buraco negro que suga tudo aquilo que deseja, também damos, por vezes até sem querer ou receber nada em troca mesmo que não saibamos. É mentira! Não nascemos imersos em falta! Surgimos sim é em meio a um grande vazio. Vazio. Vazio ao qual atribuímos sentido, pois este nos demanda e nos convoca a viver, a atribuir significado à existência, ao ser. Um desses sentidos pode ser a falta. Pode também ser o amor, Deus, a ciência, a humanidade, nosso umbigo... Não importa! Nós seres humanos, estamos sempre atados a algo, algo que nos imprime um uma cor, um cheiro, uma dor, uma doçura, um encanto, algo que nos define, nos diferencia, e nos assemelha, algo que nos torna humanos. Sem isso, não há humano, não há condição, não há nada. Somos seres artificiais, por artificiais eu tomo o sentido de culturais.
 Sim, a cultura é um artifício. Nós não nascemos “seres da cultura” custou aos nossos ascendentes milhões e milhões de eras para nos desenvolvermos, possuímos uma carga filogenética deveras consistente. A cultura tem algumas funcionalidades básicas: proteção, criação e alienação.
 Vivemos em sociedade por que esta nos possibilita mais força e proteção contra as adversidades (catástrofes naturais, ataques de predadores, etc). Afinal quando juntos nós padecemos pelo outro, esse outro que por várias vias se liga a mim, me define se definindo em mim, me relembra de minha condição, de minha fragilidade, esse é o verdadeiro sentido da empatia humana, enfim, juntos nesta rede chamada sociedade nos fortalecemos, literalmente, sem a sociedade que tanto criticamos (ainda bem) nossa expectativa de vida seria extremamente menor.
Criamos, sim, muitas coisas. Inventamos a linguagem, o direito, a medicina, a música, a dança, a religião, a arte, a economia, a ciência, a filosofia, a sociologia, a psicologia, são inúmeras as ferramentas com a finalidade de nos manter juntos, balancear as consequências dessa relação, amenizar nossa animalidade, etc. Tudo isso pesa sobre o pilar da sobrevivência. Mas nós, seres humanos, criamos desde os mais remotos tempos, porque precisamos criar, transformar, expressar algo que transmita a nossa complexidade e a nossa solidão. Possuímos esse lindo desejo inerente de deixar uma marca, de fazer, de nos mover, mesmo que não saibamos o porquê, mesmo que não percebamos, mesmo que não nos importemos em saber. Somos animais, que transbordam à natureza, que transbordam à linguagem, que transbordam às emoções, que transbordam à razão, existimos e transbordamos à existência.
Mas a cultura também nos aliena, sim, no sentido mais heideggeriano. É através da cultura que nos alienamos da angústia original, daquilo que é mascarado, sacralizado ou demonizado, em todas as culturas, sempre negado, temido, falo aqui da possibilidade das impossibilidades, da finitude, da morte. A finitude nos assombra silenciosamente, cada ato vivido nos remete ao tempo, o tempo de nossa existência breve, dentre o começo e o fim, todavia, há inúmeras formas de expressões dessa condição, cada escolha, cada sentido atribuído, cada possibilidade a cada momento nos retoma implicitamente à inquietação gerada pela questão da morte.
Diante da complexidade da funcionalidade da sociedade, do comportamento humano, da sua crise existencial vale ressaltar que não podemos falar de uma busca em atribuir um sentido à sua existência e sim sentidos. Somos seres plurais e diversos. Por isso somos ambivalência e inevitavelmente perpassamos isso para tudo em nossa vida. Fazendo analogia à palavra curtir: o homem lançado na facticidade precisa tornar-se rijo; são; se desenvolver; crescer nas suas múltiplas possibilidades; se expondo ao sol, à chuva, ao frio, ao vento, à complexidade que é viver. Contudo essa exposição também causa dor, sofrimento. Suportar o padecimento dessa vida é o preço por existir, conta que não nos foi dado o direito de negar. E inacreditavelmente o homem em meio a tudo isso ainda consegue conservar o direito de gozar, de desfrutar da vida, deleitar-se com os limões que ela lhe dá numa refrescante limonada. Homo sapiens: eis o mistério da ambivalência que se revela! 


 By Andreas Lux